Em 1921, as dificuldades da Escola Superior de Medicina Veterinária “São Bento” continuavam num crescendo e as medidas adotadas não estavam surtindo os efeitos desejados. De repente, surge uma chance de alguma mudança. As ligações de Dom Abade Pedro Roeser com a Alemanha eram reais e emerge a possibilidade de vir para o Brasil um jovem médico alemão com boas recomendações. Dom Pedro não teve dúvida e aceitou a oferta, pois estava necessitando de alguém competente para ajudá-lo nas aulas, na administração com estilo universitário germânico e em novos projetos que vinha arquitetando na área médica. Com essas credenciais, chegava em Olinda, em 1921, o Dr. Ernesto Roesler. Ingressou na Escola e logo foi recebido pela Congregação no dia 03 de fevereiro e a diretoria lhe propõe que fique respondendo pelas disciplinas de Patologia Especial, Terapia Especial e Soroterapia. O Dr. Roesler recusa o cargo de chefe da Patologia, embora aceite o de chefe do Gabinete (Laboratório) Bacteriológico. Como médico, sabia perfeitamente certas diferenças e certos limites entre Patologia humana, que ele bem dominava, e Patologia animal, a despeito de muitos comuns entre ambas; ainda havia o problema da Terapêutica que entrava na mesma discussão. Por outro lado, não podia ser descortês com Dom Abade, e aceitou. No início do ano seguinte, era publicado o quadro de matérias do corpo docente de Medicina Veterinária e lá estavam as do professor Roesler: Patologia e Terapêutica Especial, Soroterapia, Embriologia, Anatomia Fundamental e Comparada. Nada menos do que seis matérias, três a mais do que no ano anterior! Em março do mesmo ano, era eleito Vice-Diretor da Escola, sendo o primeiro e único leigo a ocupar um cargo de direção. O Dr. Roesler, muito hábil operador e cirurgião, deu um grande impulso à Clínica interna e externa do Hospital Veterinário. A policlínica se expandiu bastante, de sorte que não dava vencimento a tanto trabalho, e raro aceitar-se trabalho para fora. O livro de Clínica da Escola registra 90 casos, dentre os quais 9 de eqüinos, 7 de bovinos, 66 de caninos, 3 de felinos, 1 de coelhos e 4 de galináceos, contra 87 casos do ano de 1921, assim discriminados: 10 casos de eqüinos, 2 de asininos, 4 de felinos e 10 de galináceos. Numa das sessões da Congregação, num curto discurso, Dr. Roesler repetiu, emocionado, as palavras que ouviria de Dom Pedro Roeser no dia da entrevista que tivera com ele ao chegar da Alemanha: “Procuro para minha missão não gente, mas sim homens”. Dom Abade estava entusiasmado com a dinâmica e a competência do seu compatriota. Partiu, então para introduzi-lo em outras áreas e designou-o Vice-Presidente do Centro Acadêmico de Medicina Veterinária, acentuando. Que em boa hora vem espalhar jeitosamente no campo acadêmico brasileiro o que de bom e útil viu e praticou na vida universitária da velha Europa ante, infra e post bellum. Em 15 de agosto de 1922, ano seguinte a sua chegada a Olinda, casa-se com Dolores Xavier Carneiro de Albuquerque e no dia vinte do mesmo mês seguiram em viagem de núpcias para a Europa. Como se observa, Dom Pedro tinha uma grande afeição pelo Dr. Roesler e quando o recebeu na Escola tinha, também, outros projetos para ele, como, por exemplo, o de promovê-lo no meio médico recifense e para tanto conseguiu que fosse recebido na tradicional Sociedade de Medicina de Pernambuco, então com 81 anos de fundada (hoje, em 2009, com 168 anos), e naquela Casa foi recebido em razão dos relevantes serviços prestados, em tão pouco tempo de Brasil, no campo da Medicina. Acontece que Dr. Roesler vinha, desde sua chegada, ajudando o Abade noutra empreitada de sucesso que foi a fundação de um novo hospital para comemorar condignamente o Centenário da Independência, e ainda uma Escola de Enfermagem. Com a decadência da Escola de Medicina Veterinária de São Bento, a transferência das últimas turmas para Tapera, não restou outra alternativa senão exercer com exclusividade o exercício da Medicina, e funda o Instituto de Radium, situado na Rua Gervásio Pires, nº 125. Instituto de Radium, sendo, talvez, o pioneiro em radiografias aqui no Recife. Diversos descendentes dele exercem a profissão.